Número de saraus na capital paulista já passa de 60

terça-feira, 5 de abril de 2011


Das zonas nobres à periferia, as reuniões para
demonstração de arte existem desde o século XIX e apresentam alto crescimento em São Paulo.




Por Bruna Sales

Nas areias da praia de Ubatuba, em São Paulo, um jovem jesuíta, acompanhado de fé e um bastão, escreveu 4.072 versos dedicados à Virgem Maria no primeiro século da colonização do país. Qual era o jovem? José Anchieta. Qual era a prática? Poesia. Essa arte se intensificou ao longo dos anos e anda se espalhando por diversos saraus na capital paulista. Segundo pesquisa da Poiesis (Organização Social de Cultura), o número de saraus na capital já ultrapassa 60. Dentre os lugares, onde podemos encontrá-los, estão: Vila Madalena, Bela Vista, Liberdade, Suzano, Tatuapé, Pinheiros, São Miguel Paulista, entre outros. A primeira pesquisa, realizada em agosto de 2009, registrou 32 pontos de poesia que estimularam a criação de novos. 

No Céu Vila Curuçá, na região de São Miguel Paulista, os saraus acontecem todo segundo sábado do mês com um tema específico para cada encontro. Nas apresentações, assuntos como literatura de cordel, teatro, amizade e homenagens a artistas famosos, como Mário Quintana, são abordados com frequência. Na Casa de Cultura de Itaim Paulista não é diferente. Sempre no último sábado de cada mês, jovens se reúnem para debater assuntos variados, filosofar, ler, dançar, tocar seus instrumentos e demonstrar a sua arte. No mês de março, o homenageado foi Carlos Drummond de Andrade e o nome atribuído ao sarau foi "O que dizem os umbigos". "Isso significa: não fique aí sozinho com seu umbigo, vamos juntá-los e ver o que pensam e dizem. É o pensar coletivo em ação", explica Camila Medeiros, estudante e participante do sarau há dois anos. A palavra Sarau origina-se de “ser eu”. Em sua poesia, Rogério Cattoni, integrante do sarau, explica: “Origem esta intuitiva e misteriosa, de clareza.De dimensões intensas e oportunidades inimagináveis. Seres que fazem este tipo de manifestação o chamam de Sereu, agora... é preciso coragem para assim chamá-lo”.

Apesar do crescimento notável dos saraus, para alguns participantes e músicos da região, a afinidade e o compartilhamento de informações precisam de mais divulgação. “Existem muitos saraus, mas para as pessoas participarem, é preciso mais incentivo e motivação”, afirma João Martins de Oliveira, autor de quatro livros, poeta e freqüentador  da Casa do Poeta Lampião de Gás.


Localizada próximo à estação da Liberdade, e com pouco mais de 60 anos, esta é a mais antiga organização associativa de poetas das Américas e seus integrantes defendem a poesia com unhas e dentes. “O soneto é o que há de mais belo e tocante na poesia. A música nada mais é do que a poesia com melodia embutida. Nós queremos mais jovens frequentando a Casa dos Poetas para que esse trabalho seja divulgado e levado adiante", afirma Wilson Jasa de Oliveira, poeta, jornalista e Presidente da Casa e do Movimento Poético de São Paulo.

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