Jovens abrem as cortinas e o espetáculo começa

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Projeto mostra que periferia é capaz de produzir cultura

Por Marco Oliveira

Exibição das aulas de Jazz. (Por Tatiana de Campos)
Arte e cultura nos bairros; não estamos falando somente de peças de teatro, shows e entretenimento, mas de ações culturais capazes de trazer mobilização social. Essa é a proposta do Projeto Periferia Invisível, criado em novembro de 2008, no bairro Vila Cisper, na Zona Leste de São Paulo. A ideia partiu de três amigos que tinham um objetivo em comum: fazer com que os moradores das periferias produzissem e consumissem arte.

Bruno Veloso, estudante de Gestão em Políticas Públicas na USP é o coordenador geral do Periferia Invisível e iniciou o projeto após o trabalho de conclusão de curso de Gestão Cultural no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. “Eu percebi que o projeto tinha muito potencial e mesmo depois de terminar o meu curso continuei ajudando e hoje coordeno as oficinas”, explica Veloso.

O grupo interage no ritmo do jazz (por Tatiana de Campos)
Bruno Veloso conta que a ideia inicial era montar algo que não tivesse caráter assistencialista. “Primeiro porque existem grupos que fazem um projeto, oferecem à comunidade e depois de um período vão embora. A ideia não é tirar ninguém das drogas, é mostrar que existem pessoas na comunidade que têm capacidade de produzir arte com qualidade”, conclui Veloso.

Ao lado de amigos, Veloso levou cerca de um ano para estruturar o projeto e hoje, o Periferia Invisível é uma associação, possui CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), conta com 16 colaboradores e promove várias oficinas, tais como: circo, dança, teatro, música e gestão cultural.

Há um período de inscrição para a formação dos grupos. Os cursos são divididos em três módulos e têm duração de um ano, cada um. No final de cada módulo, no mês de novembro, é apresentada mostra de todas as oficinas e há uma prova de aptidão para que o aluno seja admitido no próximo módulo. No final dos módulos, as turmas produzem seus próximos espetáculos sozinhos.

Bruno e Yara, colaboradores do 
Periferia Invisível (por Tatiana de Campos)
Após um tempo, Veloso contemplou as oficinas e percebeu que faltava incentivo para fazê-las. As pessoas não permaneciam por muito tempo, por isso montou-se uma grade de atividades com tempo de duração pré-determinado. O Periferia, como o projeto é chamado, já conta com uma média de 50 participantes. Os ensaios ocorrem durante a semana e as oficinas são realizadas aos sábados e domingos. O espaço é aberto para outros grupos culturais que queiram utilizar o espaço.

A Associação não tem patrocínio, contudo um dos fundadores do projeto tem uma empresa de calçados que mantém o site. Nos eventos, é cobrado o ingresso consciente, no qual cada um contribui com o que pode. Além disso, eles arrecadam fundos com a venda de camisetas e alimentos. Cinquenta por cento da renda da bilheteria vai para o Periferia Invisível, vinte por cento para os artistas e trinta por cento para cobrir as despesas do local.

A divulgação é feita pelo site, por e-mail e por mecanismos impressos de divulgação, tais como cartazes e flyers. Os espetáculos são apresentados no próprio espaço das oficinas e alguns são levados para escolas e faculdades. Bruno Veloso lembra ter promovido sarau na USP Leste com os alunos do Periferia Invisível.

Yara de Andrade Savóia é professora da oficina de dança desde março deste ano, fez Jazz por seis anos e mora no Ipiranga. Resolveu participar do Periferia Invisível depois do seu trabalho de conclusão de curso, hoje ministra aulas para 15 jovens.

Ela conta que 15 pessoas se inscreveram para o curso e no primeiro dia de aula ninguém apareceu: “Mas vieram 10 pessoas que não haviam se inscrito e estão nas aulas até hoje”. Ela se surpreendeu com a receptividade dos alunos e com o empenho deles. “Fiquei apreensiva por que teria quatro alunos homens. Mas fiquei feliz que eles também se empenham bastante em mostrar um bom trabalho”, conclui Yara. Para a apresentação do final do ano, ela pretende organizar um espetáculo de dança junto com a oficina de circo. Os ensaios começarão a partir de agosto.
As oficinas acontecem todos os sábados 
e domingos (por Tatiana de Campos)

Victor Hugo é um dos alunos de Yara e participa há um ano das oficinas de teatro, circo, música e gestão cultural. “Tinha certo preconceito, pois achava que as oficinas no centro eram melhores que as de bairro. Hoje, gosto das oficinas do Periferia pois eles oferecem algo de qualidade, sem precisarmos se locomover tanto”, diz Hugo.

Bruno Veloso assegura que o mais gratificante é receber nos eventos mais pessoas do que o esperado. “Houve eventos que esperávamos 20 pessoas e vieram 40. Isso é um sinal de que estamos conquistando o público”. Para Veloso, o grande sonho dos idealizadores do Periferia Invisível é trabalhar e viver só do projeto.

Todas as oficinas são gratuitas e só colabora quem quer. Para saber mais informações sobre o projeto, acesse o site: www.periferiainvisivel.com.br.

Periferia Invisível
Rua: Barra de Santa Rosa n°440 - Vila Cisper


0 comentários:

Postar um comentário

 
RADAR JORNALÍSTICO | by TNB ©2011