A vida é um doce

domingo, 28 de agosto de 2011

Por Tamiris Gomes e Cristiano Hurtado

 
O bom atendimento é o que mais atrai os
 estudantes a comprarem as trufas
de Dona Ceiça. (Por Samantha Henzel)
Seu nome é Maria Conceição Gonçalves Santos, nasceu em 11 de maio de 1961 em uma cidade denominada Brejões, localizada no Centro-Sul do estado da Bahia. Lugar de solo fértil para o plantio do café e de refúgio para retirantes, Brejões foi onde Dona Ceiça – como gosta de ser chamada – cresceu e viveu até seus 8 anos. Dona Ceiça lembra pouco de sua infância, apenas disse ter passado fome, algo que achou melhor esquecer. Quando chegaram em São Paulo Dona Ceiça e sua família foram morar no distrito do Itaim Paulista, Zona Leste. Com sonhos e expectativas palpitando, assim como é o coração de todo migrante que deixa sua terra natal e abandona suas raízes para se afixar em uma região desconhecida, cercada de desafios, Dona Ceiça rega seus sonhos com esperança mesmo que o medo venha tentar lhe roubar as forças. Mas medo maior ela sentiu quando seu pai falecera um ano após se instalarem em São Paulo, deixando sua mãe mais suas duas irmãs. Aos 13 anos Dona Ceiça já sabia costurar e aos 14 conheceu Givaldo, também baiano. Apaixonou-se e casou aos 19. Casada há 30 anos tem dois filhos e uma nora, que lhe deu o seu primeiro e até então único neto, o Gustavo de 4 anos.
Esta seria a história de Dona Ceiça, ainda assim seria bela, mas o constante sorriso em seus lábios e sua voz delicada e serena nos narra o seguinte:

“Tudo começou há nove anos quando a minha filha faleceu aos 5 anos e 8 meses. Fiquei arrasada. Eu costumava costurar muito e um dia pensei e decidi que precisa sair daquilo, pois me consumia. Não aguentava mais ficar dentro de casa, presa. Eu queria ver gente, conversar, distrair. Eu queria mudar de vida. Eu almejava algo mais, e ainda almejo. Fui para a escola e terminei meus estudos. Quando chegou a época da Páscoa tive a ideia de fazer ovos de páscoa para meus afilhados e foi a partir deste momento que nasceu o meu amor pelo chocolate.”
Foi com amor e munida desta matéria-prima que Dona Ceiça deixou de ser somente Dona Ceiça para ser a “Tia da Trufa” quando em 3 de agosto de 2006 – data muito bem lembrada por ela – passou a vender suas guloseimas em frente a Universidade Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista. O gosto amargo da perda de uma filha trouxe o que era doce para a vida de Dona Ceiça e aqueles mesmos sonhos e expectativas de menina o tempo não deixara morrer:
“O que me motiva é saber que o amanhã tem sempre coisas boas. Eu vejo sempre o lado bom de tudo. O amanhã é sempre o amanhã, ele é quem guarda as surpresas. A vida tem seus porquês. Se te derem um limão, faça uma limonada. Não são todos que têm o privilégio da vida, já que temos, vamos viver.”

Com notável simpatia, Dona Ceiça atende seus clientes, em sua maioria estudantes, com brilho nos olhos, brilho que reflete amor, amor tal qual Dona Ceiça adiciona a suas receitas. Ela cultivou amizades e às vezes é até psicóloga, dá conselhos e se orgulha disso. Mas o que a “Tia da Trufa” não sabe é que mais doce do que o chocolate que ela vende é a sua própria doçura.

1 comentários:

EMEF RAIMUNDO CORREIA disse...

Que artigo maravilhoso! Às vezes passamos por Dona Ceiça e só seu olhar e carinho já deixa nossa noite melhor, bem como suas trufas maravilhosas. Parabéns aos autores.

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