Por Tamiris Gomes e Cristiano Hurtado
O bom atendimento é o que mais atrai os estudantes a comprarem as trufas de Dona Ceiça. (Por Samantha Henzel) |
Seu nome é Maria Conceição Gonçalves
Santos, nasceu em 11 de maio de 1961 em uma cidade denominada Brejões,
localizada no Centro-Sul do estado da Bahia. Lugar de solo fértil para o
plantio do café e de refúgio para retirantes, Brejões foi onde Dona Ceiça –
como gosta de ser chamada – cresceu e viveu até seus 8 anos. Dona Ceiça lembra
pouco de sua infância, apenas disse ter passado fome, algo que achou melhor
esquecer. Quando chegaram em São Paulo Dona Ceiça e sua família foram morar no
distrito do Itaim Paulista, Zona Leste. Com sonhos e expectativas palpitando, assim
como é o coração de todo migrante que deixa sua terra natal e abandona suas raízes
para se afixar em uma região desconhecida, cercada de desafios, Dona Ceiça rega
seus sonhos com esperança mesmo que o medo venha tentar lhe roubar as forças.
Mas medo maior ela sentiu quando seu pai falecera um ano após se instalarem em
São Paulo, deixando sua mãe mais suas duas irmãs. Aos 13 anos Dona Ceiça já
sabia costurar e aos 14 conheceu Givaldo, também baiano. Apaixonou-se e casou
aos 19. Casada há 30 anos tem dois filhos e uma nora, que lhe deu o seu
primeiro e até então único neto, o Gustavo de 4 anos.
Esta seria a história de Dona Ceiça,
ainda assim seria bela, mas o constante sorriso em seus lábios e sua voz
delicada e serena nos narra o seguinte:
“Tudo começou há nove anos quando a minha filha faleceu aos
5 anos e 8 meses. Fiquei arrasada. Eu costumava costurar muito e um dia pensei
e decidi que precisa sair daquilo, pois me consumia. Não aguentava mais ficar
dentro de casa, presa. Eu queria ver gente, conversar, distrair. Eu queria
mudar de vida. Eu almejava algo mais, e ainda almejo. Fui para a escola e
terminei meus estudos. Quando chegou a época da Páscoa tive a ideia de fazer
ovos de páscoa para meus afilhados e foi a partir deste momento que nasceu o
meu amor pelo chocolate.”
Foi com amor e munida desta
matéria-prima que Dona Ceiça deixou de ser somente Dona Ceiça para ser a “Tia
da Trufa” quando em 3 de agosto de 2006 – data muito bem lembrada por ela –
passou a vender suas guloseimas em frente a Universidade Cruzeiro do Sul, em
São Miguel Paulista. O gosto amargo da perda de uma filha trouxe o que era doce
para a vida de Dona Ceiça e aqueles mesmos sonhos e expectativas de menina o
tempo não deixara morrer:
“O que me motiva é saber que o amanhã tem sempre coisas
boas. Eu vejo sempre o lado bom de tudo. O amanhã é sempre o amanhã, ele é quem
guarda as surpresas. A vida tem seus porquês. Se te derem um limão, faça uma
limonada. Não são todos que têm o privilégio da vida, já que temos, vamos
viver.”
Com notável simpatia, Dona Ceiça atende
seus clientes, em sua maioria estudantes, com brilho nos olhos, brilho que
reflete amor, amor tal qual Dona Ceiça adiciona a suas receitas. Ela cultivou
amizades e às vezes é até psicóloga, dá conselhos e se orgulha disso. Mas o que
a “Tia da Trufa” não sabe é que mais doce do que o chocolate que ela vende é a
sua própria doçura.
1 comentários:
Que artigo maravilhoso! Às vezes passamos por Dona Ceiça e só seu olhar e carinho já deixa nossa noite melhor, bem como suas trufas maravilhosas. Parabéns aos autores.
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