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Crônica: Economia
Hoje em dia, temos a sensação de que podemos comprar tudo o que queremos,
afinal o crédito é facilitado. Posso parcelar tudo e quando não tenho o
dinheiro na hora eu pago a 30, 60 ou até 90 dias. Posso ainda pegar um
empréstimo no qual não preciso nem comprovar renda ou condições de pagamento. Estou
rico. Basta andar pelas ruas, atender o telefone, responder um e-mail ou entrar
no Facebook para receber a abordagem de alguma financeira de plantão.
A vida hoje, diante dessas facilidades é maravilhosa, foi-se o tempo no qual
eu precisava me humilhar, entregar milhares de documentos e ficar dias na
expectativa de uma aprovação, simplesmente para comprar um ferro de passar roupas
no crediário. Não me lembro mais desse tempo, onde era difícil arrumar dinheiro
até com um amigo. Cartão? Eu não tinha, era só o salário e nada mais, se ele acabasse,
eu ficava sem nada, sem nada por mais 30 dias.
Mas outro dia comecei a me perguntar, quer dizer, começaram a me perguntar.
Como você pretende pagar tudo o que comprou? Parcelei tudo e nesse mês tenho
que pagar tudo de novo, será que consigo parcelar o parcelado? O banco disse
que sim com um pequeno acréscimo de juros, algo de amigo, para se pagar depois.
O problema é quando o “depois” chegar.
Hoje não sei o que fazer, pois depois que venceu a parcela das roupas, veio à
televisão, o carro e começou a vencer tudo o que foi parcelado, emprestado ou
praticamente negociado fiado. O meu salário? Eu não o possuo mais, nem o do mês
conseguinte ou os próximos que virão. Quando noto o cenário em que vivo, tenho
que pegar um empréstimo para pagar outro empréstimo e assim eu entro numa roda
gigante que vai ficando mais apertada e não para de rodar, de sufocar.
Para ter tudo, tudo o que eu queria, terei que trabalhar os próximos dois
anos, isso se eu não parcelar o parcelado novamente, e quando aparece algo novo
ou preciso comprar algo necessário, dinheiro já não tenho, pois o pagamento é
feito por consignado. Tudo que me foi facilitado, hoje está sendo cobrado, meu
nome já me foi tomado e sou mais um dentre os muitos enganados. Voltei ao passado,
em que não existia o fiado e tenho que trabalhar como escravo; sem salário, sem
dinheiro, sem comprar nada, sem ter nada, novamente sem nada, mas não mais por
30 dias e sim por uma quantidade infinita de dias que poderiam até ser
parcelados.
Por Estefano Perez
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