Fiado, só amanhã

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


(Banco de Imagens)


Crônica: Economia

Hoje em dia, temos a sensação de que podemos comprar tudo o que queremos, afinal o crédito é facilitado. Posso parcelar tudo e quando não tenho o dinheiro na hora eu pago a 30, 60 ou até 90 dias. Posso ainda pegar um empréstimo no qual não preciso nem comprovar renda ou condições de pagamento. Estou rico. Basta andar pelas ruas, atender o telefone, responder um e-mail ou entrar no Facebook para receber a abordagem de alguma financeira de plantão.

A vida hoje, diante dessas facilidades é maravilhosa, foi-se o tempo no qual eu precisava me humilhar, entregar milhares de documentos e ficar dias na expectativa de uma aprovação, simplesmente para comprar um ferro de passar roupas no crediário. Não me lembro mais desse tempo, onde era difícil arrumar dinheiro até com um amigo. Cartão? Eu não tinha, era só o salário e nada mais, se ele acabasse, eu ficava sem nada, sem nada por mais 30 dias.

Mas outro dia comecei a me perguntar, quer dizer, começaram a me perguntar. Como você pretende pagar tudo o que comprou? Parcelei tudo e nesse mês tenho que pagar tudo de novo, será que consigo parcelar o parcelado? O banco disse que sim com um pequeno acréscimo de juros, algo de amigo, para se pagar depois. O problema é quando o “depois” chegar.

Hoje não sei o que fazer, pois depois que venceu a parcela das roupas, veio à televisão, o carro e começou a vencer tudo o que foi parcelado, emprestado ou praticamente negociado fiado. O meu salário? Eu não o possuo mais, nem o do mês conseguinte ou os próximos que virão. Quando noto o cenário em que vivo, tenho que pegar um empréstimo para pagar outro empréstimo e assim eu entro numa roda gigante que vai ficando mais apertada e não para de rodar, de sufocar.

Para ter tudo, tudo o que eu queria, terei que trabalhar os próximos dois anos, isso se eu não parcelar o parcelado novamente, e quando aparece algo novo ou preciso comprar algo necessário, dinheiro já não tenho, pois o pagamento é feito por consignado. Tudo que me foi facilitado, hoje está sendo cobrado, meu nome já me foi tomado e sou mais um dentre os muitos enganados. Voltei ao passado, em que não existia o fiado e tenho que trabalhar como escravo; sem salário, sem dinheiro, sem comprar nada, sem ter nada, novamente sem nada, mas não mais por 30 dias e sim por uma quantidade infinita de dias que poderiam até ser parcelados.

Por Estefano Perez

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