Educação a distância se destaca no Brasil

Cerca de 3 milhões de alunos adotaram esse método em sua grade curricular

Nathalia Alves

De sua sala na Universidade Cruzeiro do Sul,
Araújo coordena o estudo de centenas de alunos.
(Nathalia Alves)

Com vasta experiência no campo educacional, o atual Diretor Executivo do Campus Virtual da Universidade Cruzeiro do Sul, o Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr., é formado em Física Teórica e Computação Numérica, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Especializado em educação a distância (EAD); gestão universitária; ambientes virtuais de aprendizagem e tecnologias aplicadas ao ensino superior, Araújo destaca quais habilidades são necessárias para um aluno que decide estudar por meio do ambiente virtual. Ele também aponta os avanços dessa modalidade no Brasil, que segundo Carlos Bielschowsky, secretário de educação a distância do MEC, já atinge cerca de 3 milhões de alunos.

Araújo também desenvolve materiais didáticos digitais, o que acredita ser uma fator importante na formação do aluno, além da instituição ser credenciada no MEC e seguir as recomendações para a oferta de um curso a distância. Entretanto, deixa claro que o fator decisivo para uma conclusão satisfatória não é a modalidade de curso escolhida, ou seja, presencial, híbrido ou a distância, mas sim o comprometimento do aluno.

Agência Radar Jornalístico – A EAD é realidade para muitos estudantes brasileiros. O que se destaca nesse método e quais os desafios enfrentados por um aluno que decide estudar a distância?

Araújo – Em linhas gerais, a flexibilidade de espaço e tempo, a possibilidade de autonomia e disciplina por parte do estudante e o uso de recursos tecnológicos são destaques. Os materiais didáticos também se diferenciam, são mais específicos, elaborados com o objetivo de facilitar a aprendizagem autônoma. Já o maior desafio enfrentado é a organização e gestão do tempo de estudo, ou seja, a sistematização de procedimentos de estudos durante o período de atividades do curso.

ARJ – A qualidade do aprendizado adquirido pelas aulas online é equivalente ao adquirido de forma presencial?

Araújo – Quanto à qualidade e efetividade do aprendizado, há diversas pesquisas e trabalhos que mostram que no mínimo, não há diferença significativa entre o aprendizado presencial e o aprendizado a distância. Como exemplo, a pesquisa realizada em 2009 pelo Departamento de Educação do Governo dos Estados Unidos que revelou resultados superiores dos estudantes de cursos online e híbridos quando comparados aos de cursos presenciais. Contudo, isso dependerá mais do aluno do que da modalidade de ensino que ele escolher.

ARJ – O método de ensino online exige menos do estudante, se comparado ao presencial? Quais devem ser as características desse aluno?

Araújo – Inicialmente, muitos acabam escolhendo um curso a distância pela possível facilidade se comparado a um curso presencial. Aquele que faz a escolha por esse critério, geralmente abandona o curso rapidamente. A EAD certamente não exige menos de um aluno, ela exige características diferentes: gestão e administração do tempo, autonomia e disciplina. Essas são as competências que um aluno que resolver fazer um curso a distância deve ter ou ser capaz de adquirir.

ARJ – Existe diferença entre o diploma conquistado presencialmente ou a distância? Como o mercado de trabalho encara essa modalidade de ensino?

Araújo – O reconhecimento dos cursos presenciais ou a distância diante do MEC é o mesmo. A maioria das Instituições de ensino também não apresenta diferença entre o certificado, considerando que um curso a distância poderia ser motivo de algum preconceito por uma instituição empregadora. Em todo caso, o mercado de trabalho tem absorvido continuamente a esses cursos, pois o que realmente deve valer são as competências e as habilidades adquiridas.

ARJ – O método de EAD também se tornou notório dentro de grandes empresas empregadoras. Quais os motivos e vantagens?

Araújo – As empresas estimulam seus colaboradores a realizarem cursos por e-learning (denominação mais utilizada nas empresas) com o propósito de ter funcionários que produzam serviços com melhor qualidade, sem que prejudiquem sua rotina. Muitas empresas até mantêm Universidades Corporativas, entre elas estão: Bradesco, Itaú, Sky e Vivo. Em âmbito governamental: Governo Federal, Correios e Banco do Brasil.

ARJ – A procura pela educação a distância cresce com rapidez. Como diretor do campus Virtual Cruzeiro do Sul, acredita que isso se deve a quais motivos?

Araújo – Para um grupo excluído de potenciais alunos, que vivem em localidades distantes dos grandes centros, a possibilidade de acesso a educação se destaca. Para esse público, o sistema constitui-se como um campo de inclusão. Já nos grandes centros, acredito que a questão seja tempo e necessidade de aperfeiçoamento profissional.

ARJ – A modalidade de educação a distância mais procurada por alunos é a pós-graduação, 37% dos alunos adeptos a esse método. Quais as vantagens educacionais em se fazer a pós-graduação a distância?

Araújo – Esses números indicam uma necessidade de autonomia e disciplina por quem provavelmente já está no mercado de trabalho. E as possibilidades de extensão são maiores, pois um aluno interessado em pós-graduação que reside no Acre, por exemplo, pode fazer um curso de pós-graduação em São Paulo ou até mesmo em uma instituição fora do Brasil.

ARJ – Através do contato que mantém com centenas de alunos no ambiente virtual, quais são as características dos alunos de pós-graduação?

Araújo – Em geral, os alunos de pós-graduação são mais maduros e sabem o que querem. Assim, este público é mais exigente quanto à qualidade dos materiais digitais, do ambiente virtual, da atuação do professor e da organização da instituição para a oferta de educação a distância.

ARJ – Para o professor, o que difere em lecionar por meio de métodos online?

Araújo – Na educação a distância, o papel do professor ganha novas dimensões e atribuições. Exige, além do conhecimento e domínios específicos, novas competências e habilidades, como prática nas tecnologias da informação e desenvoltura na linguagem e comunicação específicas para o ambiente virtual e a contínua expansão desse método, necessitará de muitos novos profissionais, como: tutores, docentes, professores e autores.

ARJ – Opiniões são divergentes ao se tratar de EAD. Enquanto alguns não acreditam nesse método, outros o consideram inovador e eficiente. Qual a sua posição?

Araújo – Isso é natural, por se tratar de uma modalidade que no Brasil deu um grande salto somente na primeira década deste século, ou seja, de 2000 a 2010, embora seja uma modalidade antiga tanto nesse país quanto em muitos outros. Alia-se ao salto de crescimento, o uso de recursos tecnológicos de informação e comunicação, que permitem uma aproximação entre instituição e alunos, que nunca se viu em tempos anteriores.