Festa de San Gennaro: atração saborosa há 38 anos na Zona Leste de SP

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Entre setembro e outubro, dez dias de alegria, a festa desse ano superou as expectativas da igreja da Mooca
Por Anselmo Duarte
Revisão: Jennifer Muricy e Thaís Saraiva               
             
Thaís Santos prepara molhos desde a manhã
de sábado. (Foto por Anselmo Duarte)
Onde encontrar sabores da gastronomia italiana, alegria, diversão segura, canções e animação? Na cidade de São Paulo são muitas as casas especializadas que oferecem a Itália em forma de pratos, com simplicidade ou requinte.  
O diferencial de festas italianas religiosas está no contato direto com o público e na grandiosidade que aproxima as pessoas da variedade de quitutes a preços acessíveis.

No último final de semana, a equipe do Radar Jornalístico esteve entre as ruas San Gennaro e Lins. Acompanhamos os bastidores do evento que começa bem antes da divulgação na mídia. “A festa de San Gennaro (São Januário) no ano passado terminou em meados de outubro. Nós descansamos uma semana e já começamos a preparar a festa deste ano”, conta o padre Claudiomiro Bispo que assumiu a paróquia há um ano e meio e implantou novas pastorais na igreja, além de amadurecer a organização das equipes da festividade.

A festa que faz parte do calendário oficial da cidade surgiu timidamente para homenagear o padroeiro e depois entre altos e baixos de êxito, continuou como auxílio financeiro para as despesas cotidianas. O pároco afirma que só tem a dimensão dessa festa quem participa da organização. “Ela é realmente grandiosa numericamente. Estamos fechando com mais de seis mil toneladas de macarrão. Quatro toneladas e meia de mussarela. Segundo a Polícia Militar, já passaram mais de 150 mil pessoas em quatro finais de semana, superando nossas expectativas”.
 
Os cantores prestam homenagem à Dona Nata no
último dia de festa de 2011. (Foto por Anselmo Duarte)
Tanto trabalho justifica-se pelo destino da renda, que não muda a cada ano. “Sem a festa a Paróquia de San Gennaro e a Creche Menino Jesus, que acolhe 40 crianças, não existiriam. A procura para a creche é para mais de 100 crianças. Por isso, já começamos a reforma do espaço. Além disso, temos um Centro de Integração Digital que tem apoio da Prefeitura. Em todos os locais citados existem funcionários e gastos. A festa possibilita nosso trabalho social e nossa evangelização”, enfatiza o sacerdote.
Os voluntários e os segredos do sucesso

E o que garante tanto sucesso da Festa San Gennaro? Para ter uma ideia da dedicação, o horário na divulgação foi aos sábados das 18h às 24h e domingos das 19h às 23h. A equipe de voluntários já havia trabalhado durante a semana e compareceu no sábado pela manhã com a alegria renovada. Logo cedo Fortunata Garjanigo, senhora de 90 anos, já preparava com uma equipe o molho do famoso spaghetti. Que aroma nos corredores da igreja e das ruas! Sentada na barraca que leva seu nome e acompanhada por muitos amigos, a simpática descendente de italianos, tenta dar o segredo da receita. “Ah! É amor! É o amor e deixar cozinhar por 5 horas. Não ponho açúcar. É por causa dessa fervura lenta em fogo brando que a acidez do tomate vai embora”.

E cita os ingredientes que compõem os grandes tachos dos fogões: “Coloco óleo. Pico a linguiça calabresa em pequenas fatias. Extrato de tomate. Alho, cebola, manjericão e louro. Bato tomates no liquidificador sem tirar peles ou sementes. Deixo cozinhar bem lentinho. Não tem como errar”.

Keila Matos (à direita) degusta o macarrão famoso da
Festa de San Gennaro. (Foto por Anselmo Duarte)
A jovem Thaís Oliveira dos Santos, técnica em nutrição, na cozinha interna se manifesta: “Ajudo na equipe de molhos. Fico mexendo, acertando o ponto. À noite estou nas barracas e fico feliz pelos visitantes que comparecem. Vem gente de longe. O clima é mesmo de brincadeira, fraternidade e parceria”.

Janice Garjanigo, responsável pela secretaria de administração do evento, emocionada ao lado da mãe relembra sua primeira festa na infância: “Começou como uma quermesse pequena com algumas barracas. Jamais imaginávamos o tamanho que adquiriu. Participo em primeiro lugar para acompanhar minha mãe. Em segundo para ajudar a igreja e a caridade. Sem esquecer que há outros pratos deliciosos como a fogazza, o churrasco, a polenta. Tudo isso com fatias de pão e vinho bom esse é o cardápio perfeito”. A secretária complementa dados dos paroquianos envolvidos. “São de dez a doze pessoas na comissão oficial. E mais de 450 voluntários em diversas funções”.

Os números também chamam a atenção além das barracas externas. A festa na cantina, sempre ocorre em um salão interno, com música ao vivo, leilões e sorteios de brindes. “Nossa capacidade é para 880 pessoas e não paro de atender ao telefone para dizer que os convites esgotaram. Mas nas ruas todos os sabores estão garantidos, inclusive indico a pizza”, relata Rosa Maria Palmaccio, responsável pela venda de convites.

A música ficou por conta da Banda “Felice Itália” comandada pelo maestro Feliciano Motta. Como atração especial da festa “Os Três Tenores Brasileiros”, trio formado por Armando Valsani, Nino Valsani e Francisco Romanel; e os cantores Paulo Spartani, Lígia Záccaro e Bruna Rodrigues.  “Não perco! É a quinta ou sexta vez que venho do bairro de São Miguel Paulista apreciar o macarrão com vinho”, declara a fisioterapeuta Keila Teles de Matos. O empresário Henrique Matos, morador do bairro da Vila Maria destaca: “Gosto além das massas tradicionais, dos doces e do clima familiar. Esse clima é o principal atrativo”.

Nas paredes da igreja, a exposição sobre a unificação
da Itália.  (Foto por Alexandre Trevizzano)
Quando fazia parte de um grupo folclórico de danças italianas, Silvio Pinto Ferreira Junior, sociólogo e Professor Doutor da Universidade Cruzeiro do Sul tinha a preocupação com a preservação de festas italianas como patrimônio cultural pelos jovens. Fez do tema, sua dissertação de mestrado e tese de doutorado. Segundo ele, a festa trazida pelos napolitanos é importante porque mantém a comunidade unida entre si num país diferente.
“É reconhecível a influência italiana no sotaque, na gastronomia, na arquitetura, na religiosidade etc. E o Brasil sofreu tanto essa influência que São Paulo é a cidade com maior número de italianos e descendentes, fora Itália. Aproximadamente seis milhões (número fornecido pelo consulado italiano). É maior que a população de grandes capitais italianas”, salienta o professor.

Novidades
 
Alunos do quarto semestre do curso de História da Universidade Cruzeiro do Sul, do campus Anália Franco coordenaram a Exposição em Comemoração aos 150 anos da Unificação Italiana dentro da igreja e foram monitores. “Como o bairro acolheu imigrantes da Itália e existe uma ligação direta entre a unificação e a expulsão naquele tempo da massa de trabalhadores, resolvemos (eu e meu amigo de curso) fazer um elo de ligação da história com os descendentes próximos da comunidade local, além dos visitantes de outras origens que vem de outros bairros”, explica Alexandre Trevizzano. Felipe Chadi detalha tópicos abordados no projeto: “Tivemos ainda temas como a Revolução Farroupilha e a vida do herói Giuseppe Garibaldi”.

O padre Claudiomiro ainda trouxe de sua outra paróquia para a Igreja de San Gennaro o movimento dos motociclistas. “Presido uma vez por mês a missa dos motociclistas e faço uma passeata com eles. Eu também dirijo moto e saímos pelas ruas da cidade. A próxima acontece no dia 30 de outubro”. E como mesmo nos disse sorrindo o pároco, isso para o Radar jornalístico, pode ser outra matéria em clima de festa.   




     

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