Um exemplo com e sem farda

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Por Suellen Grangeiro

Maurício Luis, garra e superação
na vida pessoal e profissional (acervo pessoal)
O estado de São Paulo possui mais de cem mil Policiais Militares. O Sargento Maurício Luis é um deles, mas sua história não se resume apenas a sua profissão, trata-se de um exemplo de vida. Nascido em Mogi das Cruzes e criado no Litoral Paulista (Praia Grande), Luis conta que era um garoto comum, que gostava de subir em árvores e passava a maior parte do tempo nadando no mar. Ao contrário dos outros meninos, detestava futebol.
Aos 19 anos, entrou para a Marinha do Brasil, na qual foi da equipe de busca e salvamento e, após alguns anos, entrou para o Corpo de Bombeiros. Lá viveu de tudo; momentos de perigo, momentos inusitados e momentos de emoção, como estes narrados por ele:
“(...) Fiz um parto sob um viaduto em São Vicente; após os procedimentos, eu estava todo sujo de sangue e outras secreções. Quando entreguei a criança à mãe ela me disse com a maior naturalidade: ‘Viu, eu tenho AIDS’. Foi meio desesperador, eu acho. Outras situações foram emocionantes, como retirar um osso preso à mandíbula de um cachorro, asfixiando-o; sua dona, uma idosa bem pobrezinha que vivia só, agradeceu ao final e disse chorando: ‘Obrigado, bombeiro! Ele é meu único parente.’ É tudo que eu tenho, o meu companheirinho’. Bom, são muitas histórias.”
Mas sua vida como bombeiro não se resumia a salvar vidas. Como mergulhador, por muitas vezes tinha a missão de procurar cadáveres. Um dia encontrou o corpo de um rapaz, à noite, no meio de um canal com correnteza e um colega seu o indagou: “Para que se arriscar tanto se já está morto? Qual a diferença entre resgatar hoje ou quando ele aparecer na praia?” Luis lhe respondeu: “Para nós nenhuma, mas para os familiares que poderão dar um enterro digno fará toda diferença do mundo”. Luis acredita que o importante não é apenas salvar uma vida, mas atuar em qualquer serviço como se estivesse fazendo isso, com a mesma vontade e determinação.
Aos 40 anos, trabalhando como Policial Militar, o sargento conta que a maior dificuldade da profissão é a falta de segurança, que atinge não diretamente ao policial, mas a sua família. Sem a farda, diz ser uma pessoa normal, que estuda, vai ao cinema, cuida da casa e da cachorra (uma vira-lata que achou na praia), sai para remar, nadar e mergulhar.
Mas a maior lição de vida está por vir. Certo dia, Luis sentiu que havia algo diferente, uma sensação incômoda na região genital. Foi ao médico e foi orientado a usar sunga durante 24 horas por dia durante algum tempo. Como não resolvera, procurou outro especialista que lhe deu a notícia: estava com câncer.
“Nem preciso dizer como fiquei. Felizmente consegui um tratamento pelo SUS, em São Bernardo do Campo, onde fui muito bem atendido e tudo deu certo. Hoje faço acompanhamento e o devido controle. Quanto à pergunta que todos fazem, ‘funciona tudo normalmente.’ Recentemente esse tipo de doença foi explorado em uma novela na Rede Globo. Acredito que isso vá ajudar a mudar o pensamento dos homens e fazê-los tomarem um cuidado maior com a própria saúde.
Ao ser indagado sobre como poderíamos alcançar um mundo melhor, ele responde com convicção: “O problema são as pessoas. Mas acredito que todos possam mudar suas atitudes. Com todos cedendo um pouco, talvez seja possível chegar a um grau de equilíbrio, o que resultaria em uma vida melhor a todos.”

Depois de tantos anos nessa profissão arriscada, honrosa, que tem a Disciplina e Hierarquia como base, o sargento nos conta que, em breve, chegará a hora de dizer tchau e está determinado a mais uma vez mudar de carreira. Certamente a Polícia Militar do Estado de São Paulo estará perdendo não só um grande combatente, mas acima de tudo, um grande homem.

1 comentários:

Tamiris Gomes disse...

Parabéns Suellen, ótimo texto. Uma lição de vida.

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