Maurício Luis, garra e superação na vida pessoal e profissional (acervo pessoal) |
O estado de São Paulo possui
mais de cem mil Policiais Militares. O Sargento Maurício Luis é um deles, mas
sua história não se resume apenas a sua profissão, trata-se de um exemplo de
vida. Nascido em Mogi das Cruzes e criado no Litoral Paulista (Praia Grande), Luis
conta que era um garoto comum, que gostava de subir em árvores e passava a
maior parte do tempo nadando no mar. Ao contrário dos outros meninos, detestava
futebol.
Aos 19 anos, entrou para a
Marinha do Brasil, na qual foi da equipe de busca e salvamento e, após alguns
anos, entrou para o Corpo de Bombeiros. Lá viveu de tudo; momentos de perigo,
momentos inusitados e momentos de emoção, como estes narrados por ele:
“(...) Fiz um parto sob um
viaduto em São Vicente; após os procedimentos, eu estava todo sujo de sangue e
outras secreções. Quando entreguei a criança à mãe ela me disse com a maior
naturalidade: ‘Viu, eu tenho AIDS’. Foi meio desesperador, eu acho. Outras
situações foram emocionantes, como retirar um osso preso à mandíbula de um
cachorro, asfixiando-o; sua dona, uma idosa bem pobrezinha que vivia só,
agradeceu ao final e disse chorando: ‘Obrigado, bombeiro! Ele é meu único
parente.’ É tudo que eu tenho, o meu companheirinho’. Bom, são muitas
histórias.”
Mas sua vida como bombeiro
não se resumia a salvar vidas. Como mergulhador, por muitas vezes tinha a
missão de procurar cadáveres. Um dia encontrou o corpo de um rapaz, à noite, no
meio de um canal com correnteza e um colega seu o indagou: “Para que se
arriscar tanto se já está morto? Qual a diferença entre resgatar hoje ou quando
ele aparecer na praia?” Luis lhe respondeu: “Para nós nenhuma, mas para os
familiares que poderão dar um enterro digno fará toda diferença do mundo”. Luis
acredita que o importante não é apenas salvar uma vida, mas atuar em qualquer
serviço como se estivesse fazendo isso, com a mesma vontade e determinação.
Aos 40 anos, trabalhando
como Policial Militar, o sargento conta que a maior dificuldade da profissão é
a falta de segurança, que atinge não diretamente ao policial, mas a sua
família. Sem a farda, diz ser uma pessoa normal, que estuda, vai ao cinema,
cuida da casa e da cachorra (uma vira-lata que achou na praia), sai para remar,
nadar e mergulhar.
Mas a maior lição de vida
está por vir. Certo dia, Luis sentiu que havia algo diferente, uma sensação
incômoda na região genital. Foi ao médico e foi orientado a usar sunga durante
24 horas por dia durante algum tempo. Como não resolvera, procurou outro especialista
que lhe deu a notícia: estava com câncer.
“Nem preciso dizer como
fiquei. Felizmente consegui um tratamento pelo SUS, em São Bernardo do Campo,
onde fui muito bem atendido e tudo deu certo. Hoje faço acompanhamento e o
devido controle. Quanto à pergunta que todos fazem, ‘funciona tudo normalmente.’
Recentemente esse tipo de doença foi explorado em uma novela na Rede Globo.
Acredito que isso vá ajudar a mudar o pensamento dos homens e fazê-los tomarem
um cuidado maior com a própria saúde.
Ao ser indagado sobre como poderíamos
alcançar um mundo melhor, ele responde com convicção: “O problema são as
pessoas. Mas acredito que todos possam mudar suas atitudes. Com todos cedendo
um pouco, talvez seja possível chegar a um grau de equilíbrio, o que resultaria
em uma vida melhor a todos.”
Depois de tantos anos nessa profissão
arriscada, honrosa, que tem a Disciplina e Hierarquia como base, o sargento nos
conta que, em breve, chegará a hora de dizer tchau e está determinado a mais
uma vez mudar de carreira. Certamente a Polícia Militar do Estado de São Paulo
estará perdendo não só um grande combatente, mas acima de tudo, um grande
homem.
1 comentários:
Parabéns Suellen, ótimo texto. Uma lição de vida.
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