Entre setembro e
outubro, dez dias de alegria, a festa desse ano superou as expectativas da
igreja da Mooca
Por
Anselmo Duarte
Revisão:
Jennifer Muricy e Thaís Saraiva
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Thaís Santos prepara molhos desde a manhã
de sábado. (Foto por Anselmo Duarte) |
Onde encontrar sabores da gastronomia
italiana, alegria, diversão segura, canções e animação? Na cidade de São Paulo
são muitas as casas especializadas que oferecem a Itália em forma de pratos,
com simplicidade ou requinte.
O diferencial de festas italianas
religiosas está no contato direto com o público e na grandiosidade que aproxima
as pessoas da variedade de quitutes a preços acessíveis.
No último final de semana, a equipe do
Radar Jornalístico esteve entre as ruas San Gennaro e Lins. Acompanhamos os
bastidores do evento que começa bem antes da divulgação na mídia. “A festa de
San Gennaro (São Januário) no ano passado terminou em meados de outubro. Nós
descansamos uma semana e já começamos a preparar a festa deste ano”, conta o
padre Claudiomiro Bispo que assumiu a paróquia há um ano e meio e implantou
novas pastorais na igreja, além de amadurecer a organização das equipes da festividade.
A festa que faz parte do calendário oficial
da cidade surgiu timidamente para homenagear o padroeiro e depois entre altos e
baixos de êxito, continuou como auxílio financeiro para as despesas cotidianas.
O pároco afirma que só tem a dimensão dessa festa quem participa da
organização. “Ela é realmente grandiosa numericamente. Estamos fechando com
mais de seis mil toneladas de macarrão. Quatro toneladas e meia de mussarela.
Segundo a Polícia Militar, já passaram mais de 150 mil pessoas em quatro finais
de semana, superando nossas expectativas”.
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Os cantores prestam homenagem à Dona Nata no
último dia de festa de 2011. (Foto por Anselmo Duarte) |
Tanto trabalho justifica-se pelo destino da
renda, que não muda a cada ano. “Sem a festa a Paróquia de San Gennaro e a
Creche Menino Jesus, que acolhe 40 crianças, não existiriam. A procura para a
creche é para mais de 100 crianças. Por isso, já começamos a reforma do espaço.
Além disso, temos um Centro de Integração Digital que tem apoio da Prefeitura.
Em todos os locais citados existem funcionários e gastos. A festa possibilita
nosso trabalho social e nossa evangelização”, enfatiza o sacerdote.
Os
voluntários e os segredos do sucesso
E o que garante tanto sucesso da Festa San
Gennaro? Para ter uma ideia da dedicação, o horário na divulgação foi aos
sábados das 18h às 24h e domingos das 19h às 23h. A equipe de voluntários já
havia trabalhado durante a semana e compareceu no sábado pela manhã com a
alegria renovada. Logo cedo Fortunata Garjanigo, senhora de 90 anos, já
preparava com uma equipe o molho do famoso spaghetti. Que aroma nos corredores
da igreja e das ruas! Sentada na barraca que leva seu nome e acompanhada por
muitos amigos, a simpática descendente de italianos, tenta dar o segredo da
receita. “Ah! É amor! É o amor e deixar cozinhar por 5 horas. Não ponho açúcar.
É por causa dessa fervura lenta em fogo brando que a acidez do tomate vai
embora”.
E cita os ingredientes que compõem os
grandes tachos dos fogões: “Coloco óleo. Pico a linguiça calabresa em pequenas
fatias. Extrato de tomate. Alho, cebola, manjericão e louro. Bato tomates no
liquidificador sem tirar peles ou sementes. Deixo cozinhar bem lentinho. Não
tem como errar”.
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Keila Matos (à direita) degusta o macarrão famoso da
Festa de San Gennaro. (Foto por Anselmo Duarte) |
A jovem Thaís Oliveira dos Santos, técnica
em nutrição, na cozinha interna se manifesta: “Ajudo na equipe de molhos. Fico
mexendo, acertando o ponto. À noite estou nas barracas e fico feliz pelos
visitantes que comparecem. Vem gente de longe. O clima é mesmo de brincadeira,
fraternidade e parceria”.
Janice Garjanigo, responsável pela
secretaria de administração do evento, emocionada ao lado da mãe relembra sua
primeira festa na infância: “Começou como uma quermesse pequena com algumas
barracas. Jamais imaginávamos o tamanho que adquiriu. Participo em primeiro
lugar para acompanhar minha mãe. Em segundo para ajudar a igreja e a caridade.
Sem esquecer que há outros pratos deliciosos como a fogazza, o churrasco, a
polenta. Tudo isso com fatias de pão e vinho bom esse é o cardápio perfeito”. A
secretária complementa dados dos paroquianos envolvidos. “São de dez a doze
pessoas na comissão oficial. E mais de 450 voluntários em diversas funções”.
Os números também chamam a atenção além das
barracas externas. A festa na cantina, sempre ocorre em um salão interno, com
música ao vivo, leilões e sorteios de brindes. “Nossa capacidade é para 880
pessoas e não paro de atender ao telefone para dizer que os convites esgotaram.
Mas nas ruas todos os sabores estão garantidos, inclusive indico a pizza”,
relata Rosa Maria Palmaccio, responsável pela venda de convites.
A música ficou por conta da Banda “Felice
Itália” comandada pelo maestro Feliciano Motta. Como atração especial da festa
“Os Três Tenores Brasileiros”, trio formado por Armando Valsani, Nino Valsani e
Francisco Romanel; e os cantores Paulo Spartani, Lígia Záccaro e Bruna
Rodrigues. “Não perco! É a quinta ou
sexta vez que venho do bairro de São Miguel Paulista apreciar o macarrão com
vinho”, declara a fisioterapeuta Keila Teles de Matos. O empresário Henrique
Matos, morador do bairro da Vila Maria destaca: “Gosto além das massas
tradicionais, dos doces e do clima familiar. Esse clima é o principal
atrativo”.
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Nas paredes da igreja, a exposição sobre a unificação
da Itália. (Foto por Alexandre Trevizzano) |
Quando fazia parte
de um grupo folclórico de danças italianas, Silvio Pinto Ferreira
Junior, sociólogo e Professor Doutor da Universidade Cruzeiro do Sul tinha a
preocupação com a preservação de festas italianas como patrimônio cultural
pelos jovens. Fez do tema, sua dissertação de mestrado e tese de doutorado.
Segundo ele, a festa trazida pelos napolitanos é importante porque mantém a
comunidade unida entre si num país diferente.
“É reconhecível a influência italiana no sotaque, na gastronomia, na
arquitetura, na religiosidade etc. E o Brasil sofreu tanto essa influência que
São Paulo é a cidade com maior número de italianos e descendentes, fora Itália.
Aproximadamente seis milhões (número fornecido pelo consulado italiano). É
maior que a população de grandes capitais italianas”, salienta o professor.
Novidades
Alunos do quarto semestre do curso de
História da Universidade Cruzeiro do Sul, do campus Anália Franco coordenaram a
Exposição em Comemoração aos 150 anos da Unificação Italiana dentro da igreja e
foram monitores. “Como o bairro acolheu imigrantes da Itália e existe uma
ligação direta entre a unificação e a expulsão naquele tempo da massa de
trabalhadores, resolvemos (eu e meu amigo de curso) fazer um elo de ligação da
história com os descendentes próximos da comunidade local, além dos visitantes
de outras origens que vem de outros bairros”, explica Alexandre Trevizzano.
Felipe Chadi detalha tópicos abordados no projeto: “Tivemos ainda temas como a
Revolução Farroupilha e a vida do herói Giuseppe Garibaldi”.
O padre Claudiomiro ainda trouxe de sua
outra paróquia para a Igreja de San Gennaro o movimento dos motociclistas.
“Presido uma vez por mês a missa dos motociclistas e faço uma passeata com
eles. Eu também dirijo moto e saímos pelas ruas da cidade. A próxima acontece
no dia 30 de outubro”. E como mesmo nos disse sorrindo o pároco, isso para o
Radar jornalístico, pode ser outra matéria em clima de festa.